Arte e Cultura

Pré-Colombiana

 


Introdução

Nós ocidentais estudamos quase que unicamente a historia do ocidente, deixando o oriente e o extremo ocidente de lado. Viso neste trabalho mostrar algumas peculiaridades da cultura que existia nas Américas antes da chegada dos europeus e da conseqüente aniquilação destes povos.


Mochicas

Uma dos fatos mais marcantes das culturas pré-colombianas é que praticamente todas, senão todas, realizavam sacrifícios humanos. Recentemente foram descobertos dois túmulos com dezenas de ossadas humanas em uma pirâmide no Peru. Huaca de la Luna como é chamada esta pirâmide, o principal templo mochica, tinha 32 metros de altura. Ela possui um altar no topo de onde eram realizados os sacrifícios e os corpos eram então jogados la de cima.

Os mochicas não possuíam escrita, porem possuíam uma rica iconografia. Nela são pintadas várias tradições de sua cultura como, por exemplo, todo o ritual de sacrifício. Estes começavam com a captura de prisioneiros em batalhas, geralmente travadas no deserto, entre as cidades-estado. Os soldados vencedores batiam com pesados porretes no nariz dos vencidos que então eram despidos e amarrados pelo pescoço para serem conduzidos até a cidade vencedora. Os captores traziam os prisioneiros e desfilavam com eles na praça principal do templo. Ali eram apresentados aos sacerdotes e à imagem de Ai-Apaec, o deus que exigiria o sacrifício e que estava pintada nos muros da grande praça. Os cativos eram então preparados para morte com sementes de coca e alucinógenos. Os prisioneiros eram então levados ao altar da Huaca de la Luna, de onde apenas os lordes e sacerdotes podiam sair vivos. O cativo era degolado pelo sacerdote com uma espátula afiada. Uma sacerdotisa, então, recolhia o sangue em uma taça de cerâmica que era oferecida ao lorde que o bebia. Estima-se que em torno de três humanos eram sacrificados a cada cerimônia.

Os motivos destes rituais eram políticos e religiosos. “Os mochicas fizeram do sacrifício humano um elemento religioso central”, diz Steve Bourget [1] . Os murais coloridos da Huaca de la Luna mostram uma figura assustadora, com dentes felinos, que traz um machado em uma mão e uma cabeça na outra. Seu nome é Ai-Apaec, também chamado de El Degollador em espanhol. Figura comum entre as culturas andinas, supõe-se que seu culto começou há mais de 3000 anos. Porem, foram os mochicas que elevaram-no ao posto de divindade máxima. Isso ocorreu por volta do ano 50 de nossa era, quando uma classe de sacerdotes-guerreiros tomou o poder nos vales da costa norte peruana. Esses homens, conhecidos como lordes mochicas, criaram uma confederação de cidades-estado que dominou um território de 400 quilômetros de extensão. “Os lordes criaram uma estrutura social incrivelmente complexa, baseada no controle da autoridade religiosa, política e militar”, diz o arqueólogo Walter Alva [2] . Assim como os faraós egípcios, eles reinvidicavam para si mesmos o status de divindade. Os cultos sangrentos eram demonstrações publicas intimidadoras. O Estado mochica usava o terror religioso como instrumento de poder político.

Os motivos religiosos eram ajudar Ai-Apaec, o deus da ordem, a enfrentar um puma, representante da desordem. A vitória do todo-poderoso prenunciava boas chuvas e invernos amenos, mas para garantir que ele ganhasse a luta era preciso alimenta-lo com sangue. Dessa forma os sacerdotes afirmavam poder controlar o mundo, o tempo e o clima através dos sacrifícios realizados. E os métodos de execução usados eram muitas vezes tenebrosos. Nas tumbas recentemente escavadas havia sinais claros de tortura antes da morte. “Alguns esqueletos têm marcas de cortes na mão, feitos no mesmo ponto repetidas vezes. Outros parecem ter sidos espetados com varetas entre os dedos do pé”, diz o antropólogo John Verano [3] . Depois da morte os corpos apodreciam a céu aberto.

Mesmo com tamanho horror, os mochicas liderados por seus sacerdotes sanguinários conseguiram realizar grandes feitos. Transformaram enormes faixas de deserto em terras cultiváveis, construindo aquedutos tão eficientes quanto os da Roma antiga e que ate hoje são usados pelos camponeses peruanos. Também ergueram algumas das maiores construções da América pré-colombiana, como as huacas de El Brujo e Del Sol. Esta ultima tinha mais de 40 metros de altura e ocupava uma área superior a da famosa pirâmide de Quéops, a maior do Egito. Sua principal cidade, no vale do rio moche, chegou a ter 15 000 habitantes. La, artesãos e ourives produziram as obras de arte mais espetaculares de toda a América pré-hispanica.


Curiosamente, os mochicas tinha uma sensibilidade estética extraordinária. “Suas obras de arte estão entre as mais espetaculares da América pré-hispanica”, diz o arqueólogo americano Christopher Donnan [4] , “eles alcançaram um grau de realismo nas esculturas de cerâmica que supera de longe os maias, a mais desenvolvida civilização americana”. O estilo mochica clássico é o chamado huaco-retrato, que surgiu no século V na cidade que estava aos pés da Huaca de la Luna. São vasos de gargalo com esculturas que mostram figurões da política, o cotidiano da população e cenas de sexo explicito. Para produzi-los em grande quantidade, os artesãos mochicas foram os primeiros na América do Sul a usar moldes. As peças de ouro e cobre, desenterradas em 1987, formam o conjunto mais rico da ourivesaria pré-hispanica. Assim como a cerâmica decorada, as peças de metal eram de uso exclusivo dos nobres, que prezavam sobretudo o ouro.

Porem, entre os séculos VI e VII, o clima pirou na região. Estima-se que alterações meteorológicas tenham produzido uma sucessão de secas, esgotando os rios que abasteciam as cidades mochicas. Como se não bastasse, depois deste período, veio uma enorme quantidade de chuvas que arrebentaram canais de irrigação e destruíram as casas de barro e palha dos camponeses. Os lordes e sacerdotes, como guardiões da ordem natural das coisas, perderam credibilidade. As dezenas de guerreiros sacrificados de nada adiantaram para apaziguar os dedos. Sem apoio da população, a sociedade liderada pelos sacerdotes entrou em colapso, e assim as ultimas cidades foram abandonadas por volta do século VIII.


 

 

Maias

A civilização Maia se localizava no que era chamado Peten, como mostra o mapa ao lado. Durante o primeiro milênio de nossa era os Maias ergueram nesse território uma das civilizações mais florescentes da América, e que foi bruscamente abandonada no inicio do século XI.

“Matemáticos de gênio, grandes astrônomos e inventores de uma escrita, ignoravam os metais e utilizaram instrumentos de pedra polida, o que muito se assemelha ao nosso período Neolítico, mas edificaram suntuosas cidades sagradas em pleno coração dessa floresta virgem. Nos seus templos imponentes, colocados no cimo de pirâmides que atingem, por vezes, a altura de cinqüenta metros, desenrolavam-se cerimônias rituais e de iniciação, das quais algumas pedras magnificamente esculpidas nos transmitiram o testemunho.” [5]

Mesmo existindo um livro Maia que fala sobre a criação do universo, o Popol-Vuh, pouco se sabe sobre o inicio dessa curiosa civilização. “[O Popol-Vuh] começa com os feitos dos deuses Maias na escuridão de um oceano primitivo e termina com o radiante esplendor dos lordes que fundaram o reino de Quiche nos planaltos da Guatemala.” [6] Sobre a real origem dos Maias, porem, existem diversas teorias. Eles poderiam ser descendentes dos povos que atravessaram o estreito de Bering, cerca de vinte mil anos atrás. “J.E. Thompson diz que eles poderiam muito bem ser primos afastados dos Sumérios, os astrônomos que edificaram numerosas pirâmides três mil anos antes.” [7] Essa teoria também é mencionada por Adrian Gilbert em “Las Profecias Mayas”, onde diz que poderiam ser decendentes de Cartagineses. “Careri, en su libro Giro Del Mondo, hace eco de estos sentimientos, pues señala que incluso Aristóteles sabía que los cartagineses viajaban más allá de las Columnas de Hércules (el Estretcho de Gilbratar).” [8] Ele ainda diz que “fue registrado por Herodoto, por ejemplo, que los cartagineses circunnavegaron África unos 2 000 años antes que Vasco da Gama.” [9]

Definitivamente um dos maiores feitos artísticos da civilização Maia foi sua escrita. “Escrita hieróglifos Maia consiste de símbolos que representam palavras completas (logogrifos) ou silabas que consistem de pares de vogais com consoantes ou de vogais. Numa escrita silábica, palavras são escritas pelos símbolos de cada bloco, ordenados um atrás do outro.” [10] A pagina desta nota explica bem como ler e escrever com os símbolos silábicos Maias. Nas próximas folhas constam vários exemplos destes símbolos.

Estes eram alguns exemplos de hieróglifos completos. Eles são formados a partir dos símbolos a seguir, cada um com o seu respectivo significado.


Estes hieróglifos, juntos, podem constituir um texto que possui a seguinte aparência:

A aparência física dessa escrita, em pedras das paredes das maravilhosas construções Maias são como nas fotos a seguir, de degraus da escada do Templo de Cinco Andares em Edzna:

 

 

Este templo é uma das várias construções realizadas pelos Maias para sua religião.

Templo de Cinco Andares de Edzna

“Também conhecido como O Palácio, o Templo de Cinco Andares ‘tem a frente para o oeste e é alinhado de forma que dia primeiro de maio e 13 de agosto - quando o sol alcança o seu zênite neste local, o sol poente brilha diretamente em suas salas. Este alinhamento é provavelmente relacionado com as épocas de plantio.’” [11]

“Com olhos ampliados, estas mascaras provavelmente representavam aspectos do deus do sol.” [12]

“Os palácios e templos se misturavam um ao outro através de graduações continuas. Provavelmente um dos principais objetivos do arquiteto Maya era atingir a diferenciação por altura em diferentes níveis vagamente marcando a função para qual cada edifício era dedicado. Ao mesmo tempo ele estava extremamente sensível para os espaços colocados entre as edificações, procurando obter largos e ritmicamente ordenados volumes abertos. Estas áreas abertas com diferenças de nível são uma das fantásticas realizações da arquitetura Maya.” [13]

Este é um desenho de reconstrução do Palácio de Xpuil, feito por Tatiana Proskouriakoff em 1943. Ela foi uma das exploradoras que se aventurou em Peten tentando decifrar os segredos Maias.

Esta foto é como se encontra atualmente o Palácio de Xpuil, ou o que restou dele após anos sofrendo o desgaste do tempo.

“O Templo-Palácio de Dzibilnocac se situa numa plataforma de 250 pés de comprimento e 98 de largura. A estrutura consiste em uma comprida e baixa construção em um eixo de leste a oeste, com um templo de cada lado e outro muito maior no meio. A foto acima mostra o templo situado no lado leste.”


Uma das curiosidades da cultura Maia era seu padrão de beleza. Eles achavam esteticamente bonito pessoas com a testa achatada. Os recém nascidos eram colocados amarrados entre duas tabuas por vários dias. A pressão era suficiente para remodelar o crânio permanentemente, deixando-o alongado. O processo não tinha efeito na inteligência porque o cérebro tem grande capacidade plástica na infância, e iria simplesmente se acomodar ao novo formato.

Estima-se que isto era feito para que a cabeça tivesse a aparência de uma espiga de milho, a substancia, de acordo com o Popol Vuh, de onde toda a humanidade fora criada. O deus do milho era com freqüência representado com esta cabeça alongada.

Outra peculiaridade do padrão de beleza Maia eram os olhos vesgos. Para fazer com que as pessoas tivessem olhos assim, era pendurado uma pequena bola de resina entre os olhos da criança, na esperança de que atingir o efeito desejado.

Já a vestimenta Maia também era peculiar. Ate mesmo para jogos de bola as pessoas utilizavam seus chapéus que, quando maior, mais elevada classe a pessoa pertencia. No desenho abaixo tem-se, a esquerda, alguns exemplos de chapéus, e no da direita um jogador de bola.


Já o desenho abaixo demonstra como mulheres da aristocracia se vestiam.

Uma das lendas Maias conta a historia de uma princesa que se apaixonou por um homem com o qual não poderia casar. Tão inconsolável estava que chorava dia e noite por causa de seu amor proibido. Um Shaman, ouvindo seu choro e descobrindo a sua causa, transformou-a num besouro brilhante, uma jóia viva. O seu amado colocou o broche em seu peito. Assim, ela passou a sua vida perto do coração daquele que ela gostava. A foto ao lado é de um broche que hoje em dia ainda é vendido na América Central.

Os Maias desenvolveram ainda uma aguçadissima astronomia. Observavam os céus, tinham um calendário complexo onde se encaixava os anos de Vênus no céu terrestre, que é em torno de oito anos oficiais. Eles ainda acreditavam que o tempo seria constituído de cinco mundos, estando eles no quarto. A data final para este quarto mundo, porem, seria no ano de 1047. “Esta proximidade iminente da inevitável catástrofe certamente criou entre a elite Maia do século IX um tremendo clima de angustia. (...) Cada dia que se passava aproximava-os do fim do mundo, e tinham plena consciência disso. (...) O medo instalou-se então no coração dos homens, uma atividade anormal agitava as cidades sagradas e o povo inquietava-se.” [14]

Os Maias realizaram ainda, no século IX, um congresso de astrônomos. A reunião provavelmente foi convocada na esperança de encontrar, a todo o preço, um meio de fazer face ao aniquilamento anunciado pelos calendários. “Para os Maias, o único modo de escapar era renunciando ao sistema. Fugindo desta terra sagrada onde haviam vivido durante séculos e séculos, abandonando a selva invasora, os templos, os palácios e os campos de milhos, realizavam um fim do mundo voluntário e artificial. Esquecendo seu esquema cósmico, escapavam miraculosamente ao terrível destino que os esperava. Os Maias tiveram de renunciar a tudo: ao conhecimento, ao poder, à organização social e as belas cidades. As elites foram realmente sacrificadas para salvação dos homens ou então tomaram com eles o mesmo caminho do exílio, para acabarem por se instalar numa outra região e ai levarem uma vida onde somente pudesse intervir o tempo do homem, o único com sabor de eternidade.” [15] E assim se deu cabo de outra das mais fantásticas civilizações pré-colombianas.


Conclusão

Particularmente, o estudo dos povos pré-colombianos é algo fascinante. As peculiaridades destas culturas tão diferentes da nossa podem nos fazer refletir sobre os absurdos dos quais tomamos parte todo dia sem nos dar conta. E não apenas os povos antigos da América, como também as culturas orientais seguem o mesmo dogma.

A escrita Maia é fascinante e extremamente peculiar. Ate pelo tempo que se levou para entende-la, passaram-se décadas para decifra-la e ainda não foi completamente entendida.

Todo o conhecimento adquirido neste trabalho ainda esta sendo utilizado em meu próprio trabalho, pois para a historia do jogo que estou desenvolvendo estamos utilizando vários aspectos mitológicos. E ainda provavelmente incluiremos monumentos antigos, e com certeza os pré-colombianos estarão entre eles.


Bibliografia

GILERT, Adrian. Las Profecias Mayas. Mexico: Editora Grijalbo. 1996, 394 paginas.

IVANOFF, Pierre. Descobertas na terra dos Maias. Lisboa: Editora Bertrand. 1968. 315 paginas.

SuperInteressante, ano 14, numero 3. Março de 2000.

http://www.halfmoon.org

http://www.mayaruins.com

http://www.pantheon.org

http://www.eroticamuseum.com

http://www.travelvantage.com/per_moch.html#The Moche



[1] Super Interessante de março de 2000, ano 14, numero 3

[2] Mesma Super Interessante de março de 2000

[3] Super Interessante, março de 2000.

[4] Super Interessante, março de 2000.

[5] Pierre Ivanoff, “Descobertas na terra dos Maias”.

[6] http://www.pantheon.org/mythica/articles/p/popol_vuh.html

[7] Pierre Ivanoff, “Descobertas na terra dos Maias”.

[8] Adrian Gilbert, “Las Profecias Mayas”.

[9] Adrian Gilbert, “Las Profecias Mayas”.

[10] http://www.halfmoon.org/writing.html

[11] http://www.mayaruins.com/edzna/m2_010.html

[12] http://www.mayaruins.com/edzna/m2_014.html

[13] http://www.mayaruins.com

[14] Pierre Ivanoff, “Descobertas na Terra dos Maias”.

[15] Pierre Ivanoff, “Descobertas na Terra dos Maias”.